Boletim Semanal

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Acompanhe a entrevista exclusiva com o antropólogo, João Lindolfo, realizada no dia 19 de abril, “Dia do índio”.

Limbeck: A sociedade aceita facilmente os fatos que abalam o mundo. Porque há esse conformismo social?

Lindolfo: Pela existência de padrões ideológicos que vem sendo introjetado cotidianamente, como a questão da soberania de uma nação sobre a outra, de alguns povos sobre os outros, acabam se tornando algo muito natural. As pessoas “mais antenadas” que por algum momento chegam até se contrapor, acabam não encontrando eco no seio da sociedade.

Limbeck: Como você vê o preconceito no Brasil?

Lindolfo: Eu acho que 500 anos para um país é pouco tempo. O Brasil ainda é um menino, mas que tem essa grandiosa e linda diversidade, essa mestiçagem e interação entre todos os povos. É um país que você pode ver judeus e muçulmanos de mãos dadas, o que é uma metáfora pra dizer como os povos aqui convivem de forma pacífica e satisfatória entre si.

Limbeck: Qual é a solução para os brasileiros acabarem de vez com o preconceito?

Lindolfo: A solução é justamente o exercício cotidiano de micros revoluções e reflexões. Temos que nos desvencilhar dos padrões ideológicos e daquilo que se convenciona chamar de senso comum. Caminhar rumo a perspectiva, à persistência do ser humano, da realidade escolhida e não a dada. Se cada um na sua reflexão e atuação cotidiana considerar a valorização do outro, a possibilidade de um raciocínio privado de conceitos pré-estabelecidos é um bom caminho para a semente de dias melhores.

Limbeck: De quem é a culpa da alienação de nossa sociedade?

Lindolfo: A mídia em geral sofre de antemão alguns filtros e a população acaba absorvendo uma realidade dada. Então, recebe-se uma realidade muitas vezes fabricada, criando um senso comum a partir disso. Essa reflexão que pode vir a surgir ou que está surgindo aponta para a possibilidade da transcendência, uma realidade escolhida que é fruto de uma reflexão, de uma conceituação. A mídia no geral e as propagandas fazem com que as pessoas acabem absorvendo aquilo tudo como realidade absoluta.

Limbeck: Na sua concepção qual será o futuro dos índios na situação sócio-cultural atual no país?

Lindolfo: Quando se fala em preservação ambiental é muito interessante porque dizem: vamos preservar a natureza? Então, preservar a natureza é preservar também o humano. Devemos preservar um ao outro, inclusive os índios e nessa perspectiva que eu estou falando, não só preservar como aprender. Com isso pode surgir um olhar especial, solidário e inclusive até submisso para com o índio. Torna-se necessário aprender com ele e saber que preservar o meio ambiente não é preservar o seu quarteirão. O sistema, a atmosfera é uma só, então, aquele que preserva lixo no lixo, denuncia queimadas, eu acho que contribui para saltos qualitativos.

SPTrans: Qual a mensagem para a sociedade?

Lindolfo: Eu vi uma frase pichada numa parede, porque onde há paredes pichadas eu julgo que há jovens insatisfeitos, dizia assim “Não compre jornal, minta você mesmo”. Eu não acredito nisso! Leia o jornal sim, mas filtrem as notícias que você lê.

João Lindolfo - formado em Ciências Sociais, Mestre em Psicologia Social, Doutor em Antropologia Urbana, além de palestrante sobre movimentos Sócios-Culturais. Em 2004 publicou em Portugal e no Brasil o livro “Tribos Urbanas: O Reggae, O Rap e a Radiografia das Metrópoles da Ótica dos Excluídos”.

Por Elisa Limbeck

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